31 de janeiro de 2015

E aí? Tá com muito ciúmes?

A pergunta vem antes mesmo do "oi, tudo bem?". E com é a primeira vez que meu filho tem um irmão, ou que sou mãe de mais de uma criança, jamais passou pela minha cabeça qual seria a frequência desse questionamento.

E é engraçado, porque tanto para mim quanto para o Thi, é evidente que não há problemas na relação de 265 + 43 dias dos dois irmãozinhos, o Dudu e o Joca. Desde o nascimento do Joaquim, o Dudu pede para pegá-lo no colo sempre que acorda e algumas vezes ao longo do dia, vive falando que "o Joaquim é lindo, tããão fofinho, tão bonitinho", beija e faz carinho aos montes e passa longos minutos fazendo uma das coisas que mais gosta: carinho na orelha - e a dele agora é a preferida, passando até as que estavam no topo da lista: da mamãe e do papai.

Aí eu penso em como tratamos tudo isso até agora e me lembro que, antes mesmo de engravidar, tanto eu quanto o papai perguntávamos a ele se queria um irmão. E a resposta era: não. Maaaaas, teimosa que sou e depois de ser filha única por 30 anos - quem sabe a historia, sabe -, engravidamos e o Dudu foi um dos primeiros a saber. Desde que o Joca era uma sementinha, Dudu se acostumava a ter mais alguém em casa e o Thi o incentivava a beijar a barriga todo dia de manhã e antes de dormir. E depois do "eu te amo, bebê" meu e do Thi, Dudu repetia a frase, mesmo sem saber muito o que ela significava com relação a este novo membro da nossa família.

Repetíamos o "ritual" sucessivamente. O Dudu acompanhava o crescimento da barriga e foi até a alguns ultrassons com a pouca paciência de uma criança de dois anos. E então descobrimos que teríamos outro menino e o Dudu ficou feliz ao pensar que poderá formar uma banda com o irmão um dia. Decidimos pelo nome, que o Dudu passou a repetir e repetir, e contar para todo mundo que ganharia um irmãozinho chamado Joaquim. O relato veio até na avaliação do terceiro bimestre da escola, num trecho parecido com Dudu vem se expressando muito bem, volta do final de semana contando tudo o que fez e com muita alegria diz a todos que terá um irmão, o "meu Joaquim". Até que chegamos ao oitavo mês de gestação e já não poderia pegá-lo tanto no colo - algo que fiz e com muito prazer a gravidez toda, mesmo com os olhos assustados de muitos. E mais uma vez o Dudu foi compreensivo e não pareceu chateado.

Veio o grande dia de montar o berço. E tratamos tudo como uma re-decoração. Dudu ajudou o papai a montar o bercinho com as suas ferramentas de brinquedo, aos poucos arranjamos espaço nos armários para as novas roupinhas e o Dudu apoiou tudo, levando as novas visitas para conhecerem o novo quarto.

Então chegou a licença maternidade no dia 15/12  e a mamãe pôde curtir os últimos minutos do seu filho único. De repente, todo o medo e dúvida de como seria não ter mais tempo exclusivo para o Dudu e o peso na consciência de dividir tempo e amor, passaram. E eu me aproximava de realizar o maior desejo que tinha para eles: terem um irmão!

Dia 19/12 chegou e, tão programada quanto a cesariana por conta da diabetes gestacional, a despedida do meu filho único. Explicamos a ele que iríamos para o hospital porque o Joca iria nascer e ele, como todas as 37 semanas e 6 dias, pareceu compreensivo com a situação e estava ansioso: passaria a noite na casa da Dinda pela primeira vez e depois nos visitaria no hospital.

Foi por volta das 14h do dia 20/12 que os dois se conheceram e não poderia ser mais perfeito. Dudu sentou ao meu lado na cama e pediu para segurar o Joaquim no colo. Tão logo se aproximou o bebê, ele já reconhecia suas orelhas, fazendo carinho, beijando e dizendo "Joaquim, eu te amo". Mamãe, toda orgulhosa, teve seus olhos transbordados e lágrimas e a certeza de que tinha o maior tesouro de todo o mundo. Estávamos completos.

"Ahhhhh... espera voltar pra casa!". Cabrum! Parecem bruxos. Pois bem... voltamos, cá estamos e nossos dias seguem assim, tranquilos e cheios de amor. Agora o lance é "espera até ele começar a ficar engraçadinho". É hilário... sempre teremos que esperar o próximo passo. Mas sei lá... de verdade, acho que fizemos e estamos fazendo um bom trabalho. Não mentimos ou enganamos o Dudu em nenhum momento. E sinto que ele confia na gente, o que faz com que se sinta seguro e amado, pois continua ouvindo, na mesma proporção de antes, os milhares de "eu te amo mais que tudo" e "você é a minha vida" que costumava ouvir. Vai ser difícil explicar, o dia que quiserem saber, como posso "amar mais que tudo"cada um deles. Mas é assim, ué. Sem explicação.

Sei que não é por mal e eu mesma acho que perguntava a pais de segunda viagem se o primeiro tem ciúmes... mas, é fato que não precisa ser assim. Aliás, penso que isso é muito mais coisa de nós adultos que sempre temos que julgar, saber e conhecer para sermos espertos, quando na verdade todos estamos tomados por mil emoções. Os pobres antes filhos únicos é que ouvem isso dos demais e começam a achar que estão com esse chamado ciúmes que até então nem conheciam... e todos fazem disso uma verdade... transformam qualquer birra, mau humor e sono em ciúmes da criança. Coitados! Isso quando não vem a louca e grita na frente dos dois, contrariando a minha resposta (não está com ciúmes) - que deveria ser inquestionável (afinal, eu sou a mãe): "não está ainda? vai ficar! você vai ver! (cabrum de novo) e cuidado que ele vai fazer maldade com o irmão". Caceta, sabe mais do meu filho do que eu e ainda tá dando ideia torta pro menino. Enfim, conto até dez.

Por aqui, não há ciúmes do irmão. E deixarei pra esse sentimento aparecer nos seus primeiros amores,  tanto para o Joca quando para o Dudu, que, aliás, também deverá aflorar na mamãe sempre babona.